sábado, 13 de março de 2010

Cidade gaúcha tem surto de hepatite A com 60 casos confirmados

Em todo o ano de 2009, 19 pessoas foram contaminadas.
Entenda os tipos de hepatite, seus sintomas e como tratar.

Nathália Duarte Do G1, em São Paulo

Foto: Arte/G1

Rio Grande (RS), cidade portuária, fica no extremo sul do estado (Foto: Arte/G1)

A cidade gaúcha de Rio Grande (RS), com pouco mais de 195 mil habitantes, está vivendo um surto de hepatite A. De dezembro de 2009, quando foi confirmado o primeiro caso, até hoje, 60 pessoas foram diagnosticadas com a doença, diante de 78 notificações. O número assusta também pela rapidez com que tem crescido. Em todo o ano de 2009, já incluindo o caso que deu início ao surto, foram apenas 19 pessoas contaminadas.

Ainda não há uma causa confirmada para o surto de hepatite A na cidade, mas a Secretaria Estadual da Saúde acredita que a transmissão pode ter ocorrido por meio de um viajante, ou por meio de um morador de outra cidade do país que tenha se mudado para Rio Grande.

“Rio Grande é uma cidade portuária, e o porto está passando por obras de ampliação. Por isso, uma hipótese é que um dos trabalhadores que tenha vindo de outro estado tenha trazido a doença”, diz ao G1 Marilina Bercini, chefe da divisão de vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul.

De acordo com Marilina, os casos de hepatite A em Rio Grande se concentram no bairro de Castelo Branco. Por isso, a região também está sendo analisada com cuidado, a fim de descobrir a causa do surto. “Já verificamos que a água consumida pela população não apresenta problemas. Agora, estamos avaliando as condições da água de um lago no bairro e de uma vala de água”, afirma.

A doença

A hepatite é uma inflamação no fígado que pode ter inúmeras causas, entre elas, vírus, bactérias, fungos e até mesmo substâncias tóxicas. Entre as hepatites infecciosas, as ocasionadas por vírus são as mais comuns. De acordo com Roberto de Carvalho Filho, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), doutor em hepatologia, existem cinco vírus hepatotrópicos – que atuam diretamente no fígado. Eles são denominados A, B, C, D e E – por isso os nomes dados às formas de hepatite.

Os cinco vírus, que têm formas de transmissão diferentes, podem causar inflamação aguda no fígado e levar a lesões nas células do órgão. No entanto, só os vírus B, C e D podem evoluir para formas crônicas e, se não forem devidamente tratados, podem causar cirrose e até levar ao óbito ou à necessidade de um transplante.

Quando a infecção aguda se torna crônica, o fígado cria, para se defender, cicatrizes, que vão se acumulando e formando tecidos fibrosos. Um estágio de fibrose avançada pode chegar à cirrose. Uma vez com cirrose, o paciente precisa de cuidados especiais e, eventualmente, transplante de fígado.

“Já no caso de infecções agudas, semanas ou meses depois da entrada do vírus no organismo, o paciente começa a demonstrar sintomas inespecíficos, como febre, cansaço, falta de apetite e dor no corpo. Em alguns casos também ocorre icterícia, em que o paciente fica com os olhos e a pele amarelados e a urina escura”, diz o especialista ao G1.

O fato de os sintomas serem tão comuns dificulta o diagnóstico da doença, segundo Carvalho Filho. Ainda assim, em casos de infecção aguda, a doença é geralmente benigna, ou seja, seu tratamento é sintomático e ela desaparece sozinha, depois de repouso. Casos de hepatite aguda fulminante felizmente são menos comuns.

Existem vacinas para as hepatites B - disponível no sistema público de saúde -, e A - disponível em clínicas particulares. Ambas são bastante eficazes, segundo Carvalho Filho. Para as formas C, D e E de hepatite não existem vacinas.

Ainda de acordo com Carvalho Filho, não há dados precisos sobre a incidência das hepatites no Brasil, mas, provavelmente, das cinco hepatites virais, a do tipo A é a mais comum, pela facilidade de contaminação.

“A orientação geral para a prevenção, por mais que pareça óbvia, é não compartilhar nenhum utensílio que possa ter contato com sangue em casa, como aparelhos de barbear, escova de dente, e utensílios de manicure. É importante também o manejo adequado dos alimentos, beber água filtrada e não ingerir alimentos de origem duvidosa”, afirma.

Tipos da doença

Hepatites A e E
A transmissão das doenças se dá pela ingestão de água e alimento contaminados com o vírus. Por ser eliminado pelas fezes, o vírus é mais comum em áreas sem tratamento inadequado de esgoto e dejetos.A melhor forma de prevenir esses tipos de hepatite é por meio de higiene e melhores condições de saneamento básico. Não é necessário isolar pacientes com a infecção, basta tratar os sintomas. A hepatite E é muito rara no Brasil, mas pode ser fatal em gestantes.

Hepatite B
A transmissão também se dá por meio de sangue contaminado, como a C, mas o risco de contaminação, neste caso, é dez vezes maior (100 vezes maior do que a contaminação por HIV, por exemplo).

A hepatite B é uma doença sexualmente transmissível, e pode ser transmitida da mãe para o recém-nascido, no momento do parto.

Cerca de 90% das pessoas que adquirem hepatite B quando adultas terão apenas sua forma aguda, que se cura naturalmente. Apenas 10% costumam evoluir para a forma crônica.

Hepatite C
A transmissão se dá por meio de sangue contaminado, portanto é mais comum em indivíduos que fizeram transfusão de sangue antes de 1992 (ano em que o vírus passou a ser monitorado antes das transfusões) e usuários de drogas injetáveis. Também pode ser sexualmente transmissível, e transmitida na hora do parto, da mãe para o recém-nascido, mas ambas as formas de contágio são muito raras neste tipo de hepatite.

Cerca de 85% das pessoas que adquirem a hepatite C ficam com a forma crônica da doença e só 15% conseguem eliminar o vírus naturalmente do organismo. Por isso, quando há diagnóstico da doença, espera-se três meses, prazo para a cura espontânea, e depois inicia-se um tratamento para evitar que a infecção aguda se torne crônica.

Hepatite D
O vírus da hepatite D é bastante curioso. Ele só se manifesta em organismos já infectados com o vírus da hepatite B, porque precisa dele para se multiplicar. Por isso, a vacina que imuniza para o vírus B também funciona para prevenir a hepatite D.

Essa é uma forma extremamente grave de hepatite, pois trata-se da associação de dois vírus. Neste caso, é mais comum a forma crônica da doença e a forma aguda fulminante.

A transmissão se dá da mesma forma que o vírus da hepatite B, ou seja, é sexualmente transmissível, transmitida também por sangue contaminado, e de mãe para o recém-nascido, durante o parto.

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