O Hospital Walfredo Gurgel amanheceu ontem com um cenário incomum nos últimos anos. Os corredores, famosos pela quantidade de macas com pacientes internados, estavam vazios. O “milagre” é fruto de uma ação judicial, aberta há mais de 10 anos, provocada pelo Ministério Público e que obrigou a Secretaria Estadual de Saúde a retirar todos os pacientes que estavam nos corredores. O desafio agora é manter os corredores livres.Para conseguir continuar atendendo à decisão da Justiça, a Secretaria Estadual de Saúde e o Walfredo Gurgel irão fechar a porta para pacientes que não necessitem de atendimento de urgência e emergência, ou que estejam devidamente referenciados. Na teoria, o Hospital, que é referência para o atendimento de alta complexidade em urgência, já deveria fazer essa triagem através da classificação de risco. Mas na prática a triagem não funciona. “Iremos fazer com que se cumpra e o Hospital não mais recebe paciente que não deve ser atendido aqui”, diz o secretário estadual de Saúde, George Antunes, após uma reunião na manhã de ontem entre a Sesap, a direção do Walfredo, o Conselho de Medicina e o Ministério Público. Segundo o secretário-adjunto João Albérico, a deflagração da greve dos clínicos médicos, no último dia 15, serviu para mostrar o quanto a atual demanda da clínica está “superdimensionada”. “Com a greve, o Hospital passou a atender somente as urgências de fato e o número de pacientes atendidos caiu. Isso mostra que havia uma quantidade de pessoas que não deviam estar aqui. Mas estavam porque as portas estavam abertas”, conta. E complementa: “Queremos fixar uma data e cessar os atendimentos indevidos no Hospital”.
De acordo com cálculos do Walfredo Gurgel, no período anterior à greve, do dia 01 a 15 de janeiro, o Hospital teve 1.294 atendimentos na clínica, enquanto que no período de greve, até o último domingo, a contabilidade aponta 602 atendimentos. Com nove dias de greve, a diminuição é de 22%. Os números da estatística do HWG mostram outro dado importante. A Região Metropolitana de Natal é responsável pela esmagadora maioria dos atendimentos na clínica médica. Nos primeiros 15 dias do mês, foram 1.029 pacientes atendidos, do total de 1.294. Isso significa que 80,3% dos atendimentos do setor são de Natal e das cidades do seu entorno.
Por isso, o já conhecido problema da falta de estrutura na rede básica de saúde dos municípios volta à tona quando se pensa na situação do Walfredo, uma das poucas portas abertas à população. Para se ter uma ideia, ontem pela manhã, em Natal, segundo informações do Samu, haviam três pronto-atendimentos sem médico: Mãe Luiza, Guarapes e Pajuçara. Por tudo isso, a Sesap sabe que são necessárias outras providências, além de simplesmente não atender casos inapropriados para o porte do Hospital. “As medidas têm que ser suficientes. Iremos também fiscalizar dentro do próprio Walfredo para que os pacientes não fiquem dias esperando alta, como acontecia. A porta de saída do Hospital tem que ter o mesmo tamanho da porta de entrada”, diz George Antunes.
A efetividade das providências da Sesap será fiscalizada de perto, segundo o que promete a promotora da saúde, Iara Pinheiro. “Farei visitas e reuniões semanais para garantir que os corredores não voltem a ficar cheios de pacientes”, diz Iara, ressaltando que a “limpeza” dos corredores do Hospital já tinha acontecido anteriormente, contudo as macas acabaram voltando.
Primeiro dia já tem pacientes nos corredores
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE percorreu os corredores do Walfredo Gurgel no “primeiro dia sem macas” e constatou que alguns pacientes em observação já se encontravam alojados nos corredores. De acordo com a promotora Iara Pinheiro, o pedido do MP, acatado pela Justiça, veda a existência de macas até mesmo para pacientes em observação. “Não fiz a visita ainda porque a reunião tomou toda a manhã, mas caso existam pacientes até mesmo em observação isso significa um descumprimento da decisão judicial”, diz Iara. A contabilidade desses pacientes é difícil de ser feita porque a rotatividade é muito grande. No momento em que a reportagem visitou o Hospital, haviam nove macas: sete no corredor esquerdo (ao lado do Politrauma), uma no corredor direito e uma última no corredor do quarto andar das enfermarias. A maioria dos pacientes (seis segundo informações da Assessoria de Imprensa do Walfredo Gurgel) era da especialidade de neurocirurgia.
Fonte: Tribuna do Norte
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