domingo, 31 de outubro de 2010

‘Eu fui cobrado pela campanha de Serra por causa de Micarla’

O pleito do segundo turno para Presidência da República no Rio Grande do Norte trouxe a primeira grande sequela na relação entre o senador José Agripino Maia, presidente estadual do DEM, e a prefeita de Natal Micarla de Sousa (PV). Embora não use a palavra “rompimento”, o líder do DEM deixa transparecer o afastamento da líder do PV. José Agripino, coordenador da campanha de José Serra no Rio Grande do Norte, chegou a levar a prefeita Micarla de Sousa até o presidenciável tucano, com quem ela acertou o apoio. Mas foi surpreendido, uma semana depois do acordo, com o anúncio da prefeita da capital potiguar apoiando Dilma Rousseff. “Eu fiquei claramente mal perante o meu candidato Serra. Eu fui cobrado pela campanha de Serra  pela posição de Micarla”, comenta. O senador José Agripino confirma que com o pedido de exoneração do secretário municipal de Obras, Demétrio Torres, o DEM não tem mais nenhuma indicação no primeiro escalão da Prefeitura de Natal. No entanto, ele nega que a saída de Torres seja o rompimento. Segundo ele, a exoneração já estava previamente acertada.  Mas, já ratificando o afastamento da chefe do Executivo da capital, o senador do DEM afirma que o partido não pretende fazer indicação para o primeiro escalão de Micarla de Sousa. Para José Agripino os planos políticos necessariamente passam pela eleição desse domingo e pelo desempenho dos partidos nos próximos quatro anos. Mas ao final dessa entrevista ele deixa toda abertura de que poderá se colocar como candidato a vice-presidente da República. “Não quero ser pretensioso, mas tudo é possibilidade. Não quero nem de longe que sua matéria provoque uma manchete: José Agripino se lança candidato a vice-presidente. Por isso falo isso aqui para já vacinar com relação a hipotética manchete. Estou dizendo que é dependendo dos quadros que se expõe, daqui a quatro anos estarei com menos de 70 anos. Quem tem menos de 70 anos não está na perspectiva de fim de vida pública”, diz o senador José Agripino Maia.  Veja os principais trechos da entrevista que José Agripino Maia concedeu a TRIBUNA DO NORTE.

O DEM depois de tantos anos retorna ao Executivo estadual. É o renascimento do Democrata no Rio Grande do Norte?
Não é a ressurreição. É a consagração. Quem foi eleita foi Rosalba que sempre foi democrata. Ela foi prefeita de Mossoró, eleita, reeleita,eleita senadora, eleita governadora. Ela é uma vencedora e sempre foi Democrata. Tive derrota em 1998 para Garibaldi, mas todas as outras disputas o povo me honrou com a vitória. Ao longo do tempo aconteceu derrotas circunstanciais, mas os valores foram preservados.

Quem foi o grande derrotado das urnas?
Quem perdeu. Os números não mentem. Quem ganhou? Ganhou Rosalba, Garibaldi, José Agripino. O PMDB de Garibaldi ganhou, o PMDB de Henrique com a votação dele ganhou. Mas o grande vitorioso foi o Democratas que elegeu a governador e o senador.

Mas quem sai derrotado das urnas?
Perdeu Wilma, perdeu Hugo Manso, perdeu Iberê. O PT foi derrotado violentamente. O PSB esse foi o maior derrotado. O PSB perdeu com Iberê e com Wilma. O PSB elegeu um deputado estadual do grupo da governadora Wilma. Elegeu outros deputados estaduais, mas do grupo da governadora Wilma eram dois filhos e mais outros deputados que a gente sabe que são umbilicalmente ligados a ela.

A prefeita de Natal Micarla de Sousa pelo fato de não ter eleito o marido e irmã sai derrotada das urnas?
Ela não saiu bem.

Qual o sentimento que o senhor tem nesse momento por ver a prefeita em um campo oposto ao do senhor, apoiando Dilma Rousseff, enquanto o senhor apóia José Serra?
Esse é o problema. Ela apoia no segundo turno a candidata do PT, que foi quem mais combateu  candidatura dela quando eu a apoiei e fomos juntos a rua. O grande problema que surge agora é que ele apoia a candidatura do PT que a combateu. Por que eu questiono? A prefeita tem todo direito de tomar o rumo que ela quiser. Ela é PV, eu sou Democrata. O PV liberou suas facções regionais para adotarem a postura que quiserem. Tem todo direito de adotar o rumo que melhor  convier a administração dela. Agora o incomodo que me foi causado com a posição que ela tomou ocorre por ela ter me procurado para que eu intermediasse uma conversa dela com Serra, tendo em vista que o presidente do partido (PV) tinha posição claramente pró-Serra e pedia a ela para articular os diretórios regionais pró-Serra. E nesse sentido ela me procurou. Eu a levei a Serra. Tivemos conversa eu, ela e Serra no começo da eleição do segundo turno. A conversa com Serra era conclusiva, ou encaminhava para trabalho que ela se dispunha a fazer de convencimento em nome da presidência do partido para que os diretórios regionais do Nordeste viessem a manifestar apoio a Serra. Depois desse encontro houve uma semana de interstício e nessa semana, sem que nenhum comunicado, contato fosse feito, recebi um comunicado da prefeita que iria apoiar Dilma. Ela me disse que estavam prometidas vantagens para prefeitura. Ela tem o direito de lutar por essas vantagens, mas fiquei mal porque fui solicitado a intermediar o encontro, o fiz, o encontro ocorreu, o objetivo do encontro remeti para um direcionamento. Mas o posicionamento anunciado foi o contrário do encontro. Eu fiquei claramente mal perante o meu candidato Serra. Eu fui cobrado pela campanha de Serra  pela posição de Micarla. O incomodo dessa situação é esse. Como ela apóia a candidata do PT, começa a ter reuniões do PT, ela começa a criar afinidades de 2008 que são os meus adversários, por isso que digo que o futuro a Deus pertence. Não sei que tipo  de atividades políticas locais serão feitas em função de atividades políticas nacionais que foram feitas em decorrência do apoio de Micarla a Dilma Rousseff.

Ficou fácil para prefeita decidir por Dilma uma semana antes do segundo turno?
Essa pergunta tem que ser feita a ela. Não me pergunte sobre isso.

O senhor está rompido politicamente com Micarla de Sousa?
Não estou rompido com ninguém. Faço constatação: Micarla apoia a candidata do PT. Micarla começa a fazer reuniões com petistas locais. Não sei que afinidades se estabelecerão no futuro entre ela e nosso adversário de 2008.

A saída do engenheiro Demétrio Torres da Secretaria Municipal de Obras tem relação com esse estremecimento político entre o senhor e Micarla?
A saída estava programada e anunciada a ela (Micarla de Sousa).

Mas Demétrio Torres via para o secretariado da governadora eleita Rosalba Ciarlini?
Não há compromisso nesse sentido. Ele saiu porque julgava que precisava de tempo para cuidar dos seus assuntos pessoais, que sua missão a frente da Secretaria municipal estava atendida. Era um desejo pessoal dele que me colocava há bastante tempo.

O DEM ainda mantem cargo no primeiro escalão da Prefeitura de Natal?
Não.

Então com isso o DEM não faz mais parte da administração municipal?
Não. O DEM deseja que ela escolha os auxiliares que melhor convierem ao êxito administrativo dela, sem injunção político partidária. A melhor contribuição que eu posso dar é dizendo claramente que fique a vontade para escolher dentro das conveniências administrativas e políticas, sem injunção política negativa, os auxiliares que melhor ajudem a administração dela. Já que está prometido a ela uma ajuda Federal para o município e eu desejo que ela seja exitosa na administração municipal, nada melhor do que a contribuição do que nós não criarmos nenhuma dificuldade dela com o Governo Federal, até dia 31 de dezembro dese ano, quando o PT ainda estará no poder, retirando da administração  alguém do DEM que é adversário do PT.

Se convocado ou convidado o senhor indicará alguém para o secretariado de Micarla?
Ninguém. Até porque não temos tantos quadros e é possível que Rosalba venha a solicitar alguns quadros do partido para compor o governo dela e os quadros estarão preferencialmente à disposição da governadora.

Que avaliação o senhor faz da administração de Micarla de Sousa?
Ela tem tido dificuldades financeiras, perda de ICMS, crise que determinou queda do Fundo de Participação, apoio negado por parte do Governo Federal, tudo isso foram fatores que prejudicaram a administração de Micarla. Mas eu desejo que ela se recupere e atenda as expectativas do povo de Natal.

A eleição que acontece hoje poderá reverter o quadro pró-Serra no Rio Grande do Norte?
A posição de Serra melhorou muito no Estado eu não tenho dúvida.  Reunimos as regiões todas com as lideranças que nos seguem para fazer o apelo a convocação do voto pró-Serra porque votar em Serra é votar numa ajuda substantiva ao Governo de Rosalba, já que o entendimento de Rosalba com Serra é completo. Quem deseja o sucesso de Rosalba tende a votar em Serra.

Se a candidata Dilma Rousseff vencer o pleito a administração de Rosalba Ciarlini poderá ficar comprometida?
Não, de forma alguma. Quantos governadores de Estados Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, seguramente Pará, seguramente Goiás, Rio Grande do Norte, todos esses Estados vão ficar órfãos do Governo brasileiro que não pode ser do PT, mas do povo do Brasil. Rosalba não estará só. Na hipótese de perder (José Serra) ela estaria na companhia dos mais poderosos Estados da federação que teriam acesso aos programas que não são do Governo do PT, mas do Governo do Brasil e o Brasil é de todos. Rosalba estará protegida por três senadores do Rio Grande do Norte, Garibaldi o pai, Garibaldi o filho e José Agripino. Eu tenho uma posição federal e essa posição será colocada em defesa do Governo do Rio Grande do Norte e no impedimento de eventuais injustiças que venham a querer praticar no Governo de Rosalba.

O senhor derrotou o presidente Lula no Estado?
Não. Essa história de lulismo derrotado, vencedor isso não existe. Lula não derrotou Heráclito Fortes, Tasso Jereissati e nem Marco Maciel, nem César Maia, nem Mão Santa no Piauí. Quem ganhou e quem perdeu foi o candidato com sua capacidade de tecer alianças. A aliança no Rio Grande do Norte foi bem feita, bem articulada, bem compreendida. Era aliança feita, entre Rosalba, Robinson Faria, José Agripino e Garibaldi. A aliança foi montada há um ano e meio. Como foi bem montada ela resistiu a todas as investidas. A aliança foi bem feita, o eleitor aceitava e gostava do trio.

O senhor falou da prefeita Micarla de Sousa que se aproximou do PT, mas o seu aliado, o senador Gaibaldi Filho, também é próximo ao PT e apóia a candidata Dilma Rousseff. O que há de diferente que abala a relação do senhor com Micarla devido o apoio do PT, mas com Garibaldi Filho não ocorre isso?
Micarla de Sousa foi em 2008 contendora de Fátima Bezerra, candidata do PT. Garibaldi estava na nossa aliança se batia contra um candidato do PT fraco e uma candidata do PSB. Micarla fez campanha comigo e só comigo contra o candidato do PT. Lula do PT veio a Natal e destratou Micarla pessoalmente. As razões são somente essas, é de um pretérito próximo. Eu e Micarla estivemos juntos em uma disputa contra uma candidata do PT com provocações políticas e pessoais pela maior liderança do PT que veio aqui pessoalmente. É completamente diferente do quadro com Garibaldi que apoiava minha candidata Democrta e que era incomodado circunstancialmente por um candidato fraco do PT.

O senhor já conversou com a governadora eleita Rosalba Ciarlini sobre o secretariado. Que parcela terá o DEM no secretariado?
O DEM é o partido de Rosalba, é o próprio partido dela. Ela escolherá os secretários dela. Agora acho que nós temos que conversar sobre critério e já conversamos. Quando Micarla foi candidata e eu queria a vitória dela eu abri mão até da indicação do vice. Na escolha dos secretários a deixei completamente a vontade. Ora, se fiz isso com uma candidata  que queria ver eleita e não era do meu partido, que dirá com a candidata do meu partido.  O que Rosalba fará é a escolha criteriosa de secretários sem negociação política partidária que comprometa o êxito do exercício da pasta. Eu duvido que Rosalba escolha o secretário seja de que partido for para agradar o partido. Ela escolherá o secretário em função da qualificação técnica e profissional do titular. Ela vai fazer a composição política do secretariado? É normal que o faça sem comprometimento da qualidade dos titulares que tem que ter continuidade, longevidade da função para que as idéias tenham começo, meio e fim.

O senhor começou essa entrevista dizendo que o DEM sai consagrado das urnas. E por essa situação o partido se habilita a disputar a Prefeitura de Natal?
Não tem nada pensado sobre isso. Na época oportuna a gente vai analisar a situação município por município. Isso exige composição, desejo manter alianças com os partidos que fizeram nossa vitória.

O senhor quer manter aliança com quem?
Com quem for conveniente na época. Com quem tivermos afinidades robustas e robustecidas e mantidas. A avaliação erá feita na época oportuna, com os candidatos corretos.

O nome do deputado federal Felipe Maia está sendo citado como provável candidato a prefeito de Natal.
Essa história está surgindo, mas isso é intriga da oposição.

O senhor tem agora outros oito anos no Senado. Teria sido essa sua última eleição?
Por que estou ficando velho?

Oito anos é tempo considerável.
Eu não sei o que vai acontecer. Vamos ganhar a eleição com Serra? Espero que sim. Se não ganharmos como será a oposição? Se nós ganharmos com Serra, se mantendo o regime de reeleição, Serra será candidato a reeleição? Se Serra não ganhar e Dilma ganhar como será o governo dela? Como estará a oposição? Falar que essa é a última eleição é no mínimo prematuro.

O senhor deixa margens para pensarmos em uma candidatura a vice-presidência da República.
Não quero ser pretensioso, mas tudo é possibilidade. Não quero nem de longe que sua matéria provoque uma manchete: José Agripino se lança candidato a vice-presidente. Por isso falo isso aqui para já vacinar com relação a hipotética manchete. Estou dizendo que é dependendo dos quadros que se expõe, daqui a quatro anos estarei com menos de 70 anos. Quem tem menos de 70 anos não está na perspectiva de fim de vida pública. Se Dilma ganhar, espero que não aconteça, seguramente, meu partido fará oposição. E vou ter o projeto. Ninguém pode excluir ninguém do projeto. A eleição de daqui a quatro anos passa pelo resultado desta eleição e o desempenho dos partidos nos próximos quatro anos.

Fonte: Tribuna do Norte

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