* Em caso de 2o turno presidencial, governadores eleitos aliados serão troféus importantes
* "Isso pode dar fôlego novo", diz Aécio
* Lideranças nacionais poderão se concentrar mais na campanha para o Palácio do Planalto
Por Natuza Nery e Bruno Peres
BRASÍLIA (Reuters) - Mais de dois terços dos Estados brasileiros podem definir as eleições já neste domingo e esse exército que sai vitorioso das urnas será fundamental para os candidatos nacionais, caso a disputa pela Presidência da República vá para o segundo turno.
Com base nas pesquisas eleitorais, Dilma Rousseff (PT) poderia iniciar a campanha para uma eventual segunda rodada tendo a seu lado 12 governadores prontos para correr as ruas em seu favor.
O presidenciável José Serra (PSDB), segundo lugar nas sondagens e com chances de ultrapassar a barreira de 3 de outubro, contaria com sete governadores eleitos, incluindo alguns colégios de grande densidade eleitoral.
Se as faturas em São Paulo e Minas Gerais, que representam 33 por cento do eleitorado, forem liquidadas agora, o tucano teria importantes puxadores de voto para a campanha, um deles de projeção nacional, Aécio Neves.
O Paraná, com 7,6 milhões de eleitores, é um caso nebuloso, já que pesquisas têm sido impedidas de serem publicadas por ações na Justiça movidas por Beto Richa, candidato pelo PSDB. Não se sabe, por exemplo, se Osmar Dias (PDT), apoiador de Dilma, pode levar a melhor.
No caso de Minas, a conta não é necessariamente automática. Se Antonio Anastasia definir a fatura no domingo, Aécio ficaria livre para apanhar votos para a urna de Serra. Mas há dúvidas sobre seu nível de doação à campanha. Integrantes do partido, no entanto, afirmam que ele não terá como não se engajar.
Embora as vitórias não signifiquem, claro, que o conjunto dos eleitores do respectivo Estado votará neste ou naquele presidenciável, a eleição de governadores aliados é um sinal de força importante, com um peso psicológico grande no momento de contabilizar os apoios para o segundo turno.
"O governador eleito passa a ter uma liderança política diferente de quando era candidato. E isso pode dar fôlego novo. O governador fica livre para fazer um trabalho efetivo, inclusive junto aos prefeitos", afirmou Aécio.
Dos 19 Estados com possível definição em primeiro turno, o resultado seria favorável a Serra em São Paulo (30,3 milhões de eleitores), Minas (14,5 milhões), Pará (4,7 milhões), Santa Catarina (4,5 milhões), Rio Grande do Norte (2,2 milhões), Mato Grosso do Sul (1,7 milhão) e Roraima (271 mil). Juntos, somam 58 milhões de eleitores.
No caso de Dilma, seus apoiadores podem se eleger no primeiro turno no Rio de Janeiro (11,5 milhões), Bahia (9,5 milhões), Rio Grande do Sul (8,1 milhões), Pernambuco (6,2 milhões), Ceará (5,8 milhões), Maranhão (4,3 milhões), Espírito Santo (2,5 milhões), Mato Grosso (2,1 milhões), Amazonas (2 milhões), Sergipe (1,4 milhão), Tocantins (948 mil), Acre (470 mil). Um patrimônio de quase 55 milhões de eleitores a ser explorado.
EVENTUAL 2o TURNO
Há uma máxima eleitoral que afirma ser o segundo turno uma nova eleição. Os dois candidatos que forem para essa etapa da corrida, se ela de fato ocorrer, terão o mesmo tempo de TV e a oportunidade de confronto direto nos debates.
É uma fase em que o placar do jogo não zera, mas pode se alterar significativamente a depender das circunstâncias. Ganham um peso ainda maior as lideranças nacionais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já muito presente até agora, tende a incrementar seu envolvimento.
Aécio Neves é outro personagem de influência que pode ser usado para ganhar, sobretudo, a maioria dos votos mineiros.
Mas a personagem central dos primeiros dias da próxima semana, se a votação for mesmo para uma segunda rodada entre Dilma e Serra, será Marina Silva (PV), hoje em terceiro na corrida presidencial.
Seu apoio será objeto de desejo --e a obtenção dele, crucial. Mas, ao menos por enquanto, os sinais emitidos por ela indicam um cenário de neutralidade.