O pleito do segundo turno para Presidência da República no Rio Grande
do Norte trouxe a primeira grande sequela na relação entre o senador
José Agripino Maia, presidente estadual do DEM, e a prefeita de Natal
Micarla de Sousa (PV). Embora não use a palavra “rompimento”, o líder
do DEM deixa transparecer o afastamento da líder do PV. José Agripino,
coordenador da campanha de José Serra no Rio Grande do Norte, chegou a
levar a prefeita Micarla de Sousa até o presidenciável tucano, com quem
ela acertou o apoio. Mas foi surpreendido, uma semana depois do acordo,
com o anúncio da prefeita da capital potiguar apoiando Dilma Rousseff.
“Eu fiquei claramente mal perante o meu candidato Serra. Eu fui cobrado
pela campanha de Serra pela posição de Micarla”, comenta. O senador
José Agripino confirma que com o pedido de exoneração do secretário
municipal de Obras, Demétrio Torres, o DEM não tem mais nenhuma
indicação no primeiro escalão da Prefeitura de Natal. No entanto, ele
nega que a saída de Torres seja o rompimento. Segundo ele, a exoneração
já estava previamente acertada. Mas, já ratificando o afastamento da
chefe do Executivo da capital, o senador do DEM afirma que o partido
não pretende fazer indicação para o primeiro escalão de Micarla de
Sousa. Para José Agripino os planos políticos necessariamente passam
pela eleição desse domingo e pelo desempenho dos partidos nos próximos
quatro anos. Mas ao final dessa entrevista ele deixa toda abertura de
que poderá se colocar como candidato a vice-presidente da República.
“Não quero ser pretensioso, mas tudo é possibilidade. Não quero nem de
longe que sua matéria provoque uma manchete: José Agripino se lança
candidato a vice-presidente. Por isso falo isso aqui para já vacinar
com relação a hipotética manchete. Estou dizendo que é dependendo dos
quadros que se expõe, daqui a quatro anos estarei com menos de 70 anos.
Quem tem menos de 70 anos não está na perspectiva de fim de vida
pública”, diz o senador José Agripino Maia. Veja os principais trechos
da entrevista que José Agripino Maia concedeu a TRIBUNA DO NORTE.
O DEM depois de tantos anos retorna ao Executivo estadual. É o renascimento do Democrata no Rio Grande do Norte?
Não
é a ressurreição. É a consagração. Quem foi eleita foi Rosalba que
sempre foi democrata. Ela foi prefeita de Mossoró, eleita,
reeleita,eleita senadora, eleita governadora. Ela é uma vencedora e
sempre foi Democrata. Tive derrota em 1998 para Garibaldi, mas todas as
outras disputas o povo me honrou com a vitória. Ao longo do tempo
aconteceu derrotas circunstanciais, mas os valores foram preservados.
Quem foi o grande derrotado das urnas?
Quem
perdeu. Os números não mentem. Quem ganhou? Ganhou Rosalba, Garibaldi,
José Agripino. O PMDB de Garibaldi ganhou, o PMDB de Henrique com a
votação dele ganhou. Mas o grande vitorioso foi o Democratas que elegeu
a governador e o senador.
Mas quem sai derrotado das urnas?
Perdeu
Wilma, perdeu Hugo Manso, perdeu Iberê. O PT foi derrotado
violentamente. O PSB esse foi o maior derrotado. O PSB perdeu com Iberê
e com Wilma. O PSB elegeu um deputado estadual do grupo da governadora
Wilma. Elegeu outros deputados estaduais, mas do grupo da governadora
Wilma eram dois filhos e mais outros deputados que a gente sabe que são
umbilicalmente ligados a ela.
A prefeita de Natal Micarla de Sousa pelo fato de não ter eleito o marido e irmã sai derrotada das urnas?
Ela não saiu bem.
Qual
o sentimento que o senhor tem nesse momento por ver a prefeita em um
campo oposto ao do senhor, apoiando Dilma Rousseff, enquanto o senhor
apóia José Serra?
Esse é o problema. Ela apoia no segundo
turno a candidata do PT, que foi quem mais combateu candidatura dela
quando eu a apoiei e fomos juntos a rua. O grande problema que surge
agora é que ele apoia a candidatura do PT que a combateu. Por que eu
questiono? A prefeita tem todo direito de tomar o rumo que ela quiser.
Ela é PV, eu sou Democrata. O PV liberou suas facções regionais para
adotarem a postura que quiserem. Tem todo direito de adotar o rumo que
melhor convier a administração dela. Agora o incomodo que me foi
causado com a posição que ela tomou ocorre por ela ter me procurado
para que eu intermediasse uma conversa dela com Serra, tendo em vista
que o presidente do partido (PV) tinha posição claramente pró-Serra e
pedia a ela para articular os diretórios regionais pró-Serra. E nesse
sentido ela me procurou. Eu a levei a Serra. Tivemos conversa eu, ela e
Serra no começo da eleição do segundo turno. A conversa com Serra era
conclusiva, ou encaminhava para trabalho que ela se dispunha a fazer de
convencimento em nome da presidência do partido para que os diretórios
regionais do Nordeste viessem a manifestar apoio a Serra. Depois desse
encontro houve uma semana de interstício e nessa semana, sem que nenhum
comunicado, contato fosse feito, recebi um comunicado da prefeita que
iria apoiar Dilma. Ela me disse que estavam prometidas vantagens para
prefeitura. Ela tem o direito de lutar por essas vantagens, mas fiquei
mal porque fui solicitado a intermediar o encontro, o fiz, o encontro
ocorreu, o objetivo do encontro remeti para um direcionamento. Mas o
posicionamento anunciado foi o contrário do encontro. Eu fiquei
claramente mal perante o meu candidato Serra. Eu fui cobrado pela
campanha de Serra pela posição de Micarla. O incomodo dessa situação é
esse. Como ela apóia a candidata do PT, começa a ter reuniões do PT,
ela começa a criar afinidades de 2008 que são os meus adversários, por
isso que digo que o futuro a Deus pertence. Não sei que tipo de
atividades políticas locais serão feitas em função de atividades
políticas nacionais que foram feitas em decorrência do apoio de Micarla
a Dilma Rousseff.
Ficou fácil para prefeita decidir por Dilma uma semana antes do segundo turno?
Essa pergunta tem que ser feita a ela. Não me pergunte sobre isso.
O senhor está rompido politicamente com Micarla de Sousa?
Não
estou rompido com ninguém. Faço constatação: Micarla apoia a candidata
do PT. Micarla começa a fazer reuniões com petistas locais. Não sei que
afinidades se estabelecerão no futuro entre ela e nosso adversário de
2008.
A saída do engenheiro
Demétrio Torres da Secretaria Municipal de Obras tem relação com esse
estremecimento político entre o senhor e Micarla?
A saída estava programada e anunciada a ela (Micarla de Sousa).
Mas Demétrio Torres via para o secretariado da governadora eleita Rosalba Ciarlini?
Não
há compromisso nesse sentido. Ele saiu porque julgava que precisava de
tempo para cuidar dos seus assuntos pessoais, que sua missão a frente
da Secretaria municipal estava atendida. Era um desejo pessoal dele que
me colocava há bastante tempo.
O DEM ainda mantem cargo no primeiro escalão da Prefeitura de Natal?
Não.
Então com isso o DEM não faz mais parte da administração municipal?
Não.
O DEM deseja que ela escolha os auxiliares que melhor convierem ao
êxito administrativo dela, sem injunção político partidária. A melhor
contribuição que eu posso dar é dizendo claramente que fique a vontade
para escolher dentro das conveniências administrativas e políticas, sem
injunção política negativa, os auxiliares que melhor ajudem a
administração dela. Já que está prometido a ela uma ajuda Federal para
o município e eu desejo que ela seja exitosa na administração
municipal, nada melhor do que a contribuição do que nós não criarmos
nenhuma dificuldade dela com o Governo Federal, até dia 31 de dezembro
dese ano, quando o PT ainda estará no poder, retirando da
administração alguém do DEM que é adversário do PT.
Se convocado ou convidado o senhor indicará alguém para o secretariado de Micarla?
Ninguém.
Até porque não temos tantos quadros e é possível que Rosalba venha a
solicitar alguns quadros do partido para compor o governo dela e os
quadros estarão preferencialmente à disposição da governadora.
Que avaliação o senhor faz da administração de Micarla de Sousa?
Ela
tem tido dificuldades financeiras, perda de ICMS, crise que determinou
queda do Fundo de Participação, apoio negado por parte do Governo
Federal, tudo isso foram fatores que prejudicaram a administração de
Micarla. Mas eu desejo que ela se recupere e atenda as expectativas do
povo de Natal.
A eleição que acontece hoje poderá reverter o quadro pró-Serra no Rio Grande do Norte?
A
posição de Serra melhorou muito no Estado eu não tenho dúvida.
Reunimos as regiões todas com as lideranças que nos seguem para fazer o
apelo a convocação do voto pró-Serra porque votar em Serra é votar numa
ajuda substantiva ao Governo de Rosalba, já que o entendimento de
Rosalba com Serra é completo. Quem deseja o sucesso de Rosalba tende a
votar em Serra.
Se a candidata Dilma Rousseff vencer o pleito a administração de Rosalba Ciarlini poderá ficar comprometida?
Não,
de forma alguma. Quantos governadores de Estados Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, Minas Gerais, seguramente Pará, seguramente Goiás,
Rio Grande do Norte, todos esses Estados vão ficar órfãos do Governo
brasileiro que não pode ser do PT, mas do povo do Brasil. Rosalba não
estará só. Na hipótese de perder (José Serra) ela estaria na companhia
dos mais poderosos Estados da federação que teriam acesso aos programas
que não são do Governo do PT, mas do Governo do Brasil e o Brasil é de
todos. Rosalba estará protegida por três senadores do Rio Grande do
Norte, Garibaldi o pai, Garibaldi o filho e José Agripino. Eu tenho uma
posição federal e essa posição será colocada em defesa do Governo do
Rio Grande do Norte e no impedimento de eventuais injustiças que venham
a querer praticar no Governo de Rosalba.
O senhor derrotou o presidente Lula no Estado?
Não.
Essa história de lulismo derrotado, vencedor isso não existe. Lula não
derrotou Heráclito Fortes, Tasso Jereissati e nem Marco Maciel, nem
César Maia, nem Mão Santa no Piauí. Quem ganhou e quem perdeu foi o
candidato com sua capacidade de tecer alianças. A aliança no Rio Grande
do Norte foi bem feita, bem articulada, bem compreendida. Era aliança
feita, entre Rosalba, Robinson Faria, José Agripino e Garibaldi. A
aliança foi montada há um ano e meio. Como foi bem montada ela resistiu
a todas as investidas. A aliança foi bem feita, o eleitor aceitava e
gostava do trio.
O senhor
falou da prefeita Micarla de Sousa que se aproximou do PT, mas o seu
aliado, o senador Gaibaldi Filho, também é próximo ao PT e apóia a
candidata Dilma Rousseff. O que há de diferente que abala a relação do
senhor com Micarla devido o apoio do PT, mas com Garibaldi Filho não
ocorre isso?
Micarla de Sousa foi em 2008 contendora de
Fátima Bezerra, candidata do PT. Garibaldi estava na nossa aliança se
batia contra um candidato do PT fraco e uma candidata do PSB. Micarla
fez campanha comigo e só comigo contra o candidato do PT. Lula do PT
veio a Natal e destratou Micarla pessoalmente. As razões são somente
essas, é de um pretérito próximo. Eu e Micarla estivemos juntos em uma
disputa contra uma candidata do PT com provocações políticas e pessoais
pela maior liderança do PT que veio aqui pessoalmente. É completamente
diferente do quadro com Garibaldi que apoiava minha candidata Democrta
e que era incomodado circunstancialmente por um candidato fraco do PT.
O senhor já conversou com a governadora eleita Rosalba Ciarlini sobre o secretariado. Que parcela terá o DEM no secretariado?
O
DEM é o partido de Rosalba, é o próprio partido dela. Ela escolherá os
secretários dela. Agora acho que nós temos que conversar sobre critério
e já conversamos. Quando Micarla foi candidata e eu queria a vitória
dela eu abri mão até da indicação do vice. Na escolha dos secretários a
deixei completamente a vontade. Ora, se fiz isso com uma candidata que
queria ver eleita e não era do meu partido, que dirá com a candidata do
meu partido. O que Rosalba fará é a escolha criteriosa de secretários
sem negociação política partidária que comprometa o êxito do exercício
da pasta. Eu duvido que Rosalba escolha o secretário seja de que
partido for para agradar o partido. Ela escolherá o secretário em
função da qualificação técnica e profissional do titular. Ela vai fazer
a composição política do secretariado? É normal que o faça sem
comprometimento da qualidade dos titulares que tem que ter
continuidade, longevidade da função para que as idéias tenham começo,
meio e fim.
O senhor começou
essa entrevista dizendo que o DEM sai consagrado das urnas. E por essa
situação o partido se habilita a disputar a Prefeitura de Natal?
Não
tem nada pensado sobre isso. Na época oportuna a gente vai analisar a
situação município por município. Isso exige composição, desejo manter
alianças com os partidos que fizeram nossa vitória.
O senhor quer manter aliança com quem?
Com
quem for conveniente na época. Com quem tivermos afinidades robustas e
robustecidas e mantidas. A avaliação erá feita na época oportuna, com
os candidatos corretos.
O nome do deputado federal Felipe Maia está sendo citado como provável candidato a prefeito de Natal.
Essa história está surgindo, mas isso é intriga da oposição.
O senhor tem agora outros oito anos no Senado. Teria sido essa sua última eleição?
Por que estou ficando velho?
Oito anos é tempo considerável.
Eu
não sei o que vai acontecer. Vamos ganhar a eleição com Serra? Espero
que sim. Se não ganharmos como será a oposição? Se nós ganharmos com
Serra, se mantendo o regime de reeleição, Serra será candidato a
reeleição? Se Serra não ganhar e Dilma ganhar como será o governo dela?
Como estará a oposição? Falar que essa é a última eleição é no mínimo
prematuro.
O senhor deixa margens para pensarmos em uma candidatura a vice-presidência da República.
Não
quero ser pretensioso, mas tudo é possibilidade. Não quero nem de longe
que sua matéria provoque uma manchete: José Agripino se lança candidato
a vice-presidente. Por isso falo isso aqui para já vacinar com relação
a hipotética manchete. Estou dizendo que é dependendo dos quadros que
se expõe, daqui a quatro anos estarei com menos de 70 anos. Quem tem
menos de 70 anos não está na perspectiva de fim de vida pública. Se
Dilma ganhar, espero que não aconteça, seguramente, meu partido fará
oposição. E vou ter o projeto. Ninguém pode excluir ninguém do projeto.
A eleição de daqui a quatro anos passa pelo resultado desta eleição e o
desempenho dos partidos nos próximos quatro anos.
Fonte: Tribuna do Norte