sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Homem mantinha quatro filhos e mulher sob cárcere privado em Assu há mais de 10 anos

Um caso de cárcere privado descoberto ontem pela Polícia Militar do Rio Grande do Norte chocou a população de Assu, região oeste do estado. O professor aposentado Francisco Basílio Neto, de 60 anos, foi preso na tarde de ontem acusado de manter em cárcere privado, há mais de dez anos, sua esposa Maria Aparecida Figueiredo, de 44 anos, e quatro filhos de 6, 8, 18 e 21 anos. A família era mantida presa em uma sala da casa localizada no Sítio Trapiá, Zona Rural da cidade. A PM foi acionada pelo irmão de Maria Aparecida, Diógenes Galdino de Figueiredo, de 35 anos, que afirma ter denunciado a situação da irmã várias vezes ao Conselho Tutelar. “Desde 2006 que a gente fala com o pessoal do Conselho Tutelar sobre a situação da minha irmã, mas eles iam lá e o marido dela não deixava eles entrarem”, afirmou Diógenes.
De acordo com o soldado Fabierson, do 10º batalhão da PM de Assu, os policiais militares encontraram a mulher e seus filhos em condições sub-humanas. Maria Aparecida dormia em uma cama sem colchão, estava bastante debilitada e apresentava muitas feridas na cabeça. “Ela foi encontrada dormindo direto na madeira da cama, com feridas na cabeça, inclusive com alguns tapurus nos machucados”, afirmou o soldado. Os filhos de Maria Aparecida estavam sujos e desnutridos. “No momento em que os policiais chegaram as crianças estavam comendo biscoitos e um pedaço de laranja, e possivelmente essa seria a única refeição do dia”, completou o soldado.

O irmão de Maria Aparecida, Diógenes Figueiredo, conta que ela nunca teve um bom relacionamento com o marido, mas que Francisco Basílio só passou a maltratá-la quando o pai dela morreu. “Ele temia papai. Quando papai era vivo ele não fazia essas coisas com minha irmã, mas ele morreu em 1999 e a gente acabou se mudando pra cidade, aí ele se aproveitou”, disse. Diógenes diz ainda que Francisco sempre foi muito ciumento e não deixava Maria Aparecida nem sequer visitar a mãe, que mora há 400 metros da casa da filha. “Para você ter uma ideia depois que papai morreu eu nunca vi minha irmã na casa da minha mãe”.
Em 2006, Diógenes procurou o Conselho Tutelar, mas a equipe não conseguiu entrar na casa. “Ele não deixou ninguém entrar, mas o pessoal do Conselho Tutelar conseguiu aposentar o filho mais velho da minha irmã, que é deficiente.”, disse. Ele explica que não procurou a polícia antes porque temia a reação de Francisco. “Sempre que a gente ia lá para tentar ver minha irmã ele desafiava a gente. Ele não deixava ninguém entrar na casa, nem o pessoal da saúde que ia lá vacinar as crianças. As primas dele, que são vizinhas lá no sítio, que falaram que a situação estava muito grave, aí eu chamei a polícia”, contou Diógenes, que por telefone, demonstrou ser um homem sem muita instrução.
Hospital
Maria Aparecida e os filhos foram encaminhados para o Hospital Regional de Assu, onde receberam os primeiros atendimentos. “Eles estão muito debilitados, estavam todos com muita fome, mas já foram alimentados. Agora estão tomando medicação, acho que para a desnutrição”, disse o irmão Diógenes Figueiredo. Segundo ele, todos aparentam estar em estado de choque, e não falam nada do que se passava na casa. “As crianças não falam nada e minha irmã não está falando coisa com coisa. Nas poucas horas em que ela fala alguma coisa ela diz que quer voltar pra casa. Coitada, viveu tanto tempo nessa situação que parece que se acostumou”, disse.

Fonte: Diario de Natal

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