A
votação na Comissão Meio Ambiente do texto-base que substituirá o atual
Código Florestal mostrou a hegemonia da força conservadora que se
instalou no Congresso Nacional. Não é mais uma questão localizada na
Bancada Ruralista, mas é uma visão de mundo retrógrada que se instalou
de forma confortável e sem culpa no espírito da maioria dos
parlamentares. A esquerda brasileira, ou qualquer nome que se queira dar
a este segmento político, não perdeu somente a referência partidária,
mas os antigos aliados.
O
movimento sociossindical acreditou, até o último momento, que em dado
momento do processo legislativo sairia um texto equilibrado entre as
forças que dividem o espaço político. Desde a votação na Câmara dos
Deputados as lideranças sociais se reconheciam como minoria e, portanto,
não alimentavam esperanças de um texto que se identificassem
plenamente.
Lutavam
por um projeto que, mesmo recepcionando interesses do agronegócio,
protegesse as florestas, os biomas e os recursos naturais. Porém, a
dedicação sincera dos setores socioambientais aos saberes e fazeres
naturais, não pode ser compreendido pelo pensamento pragmático,
mercadológico e financista que impera no Congresso Nacional.
De
quantas derrotas precisam os setores sociais progressistas para
despertar do sonho da conquista do poder? Por acaso o poder permitiria
que dele se apoderassem quem poderia destruí-lo? A política não permite
sentimentos de frustração, desânimo ou derrota. Portanto, é necessário
buscar na realidade do processo legislativo os fatores que levaram as
lideranças a acreditar que podiam ter um texto que visasse à preservação
das florestas e do meio ambiente.
Tudo
demonstrava o contrário. Em uma reunião no Ministério do Meio Ambiente,
uma das lideranças sociais se referiu que “ali estavam reunidos os
perdedores”. Houve reação a esta fala carregada de significado real. Não
se compreendeu, no momento, que a frase não remete à derrota, mas
provoca a adoção de uma nova postura para vencer.
Gostaria
de analisar o mérito do texto-base que irá substituir o Código
Florestal, de apontar suas fragilidades, suas forças e suas perspectivas
de futuro. Comecei a fazer esse exercício, mas como imprimir uma
análise de futuro em um documento escrito pelo conservadorismo? O que
apontar de bom para as florestas, para os biomas ou para o meio ambiente
em uma proposta encomendada pelos setores agropecuários, cujos
propósitos são expandir suas áreas de lavoura, pecuária e mineração?
Não
foi por acaso que as últimas grandes derrotas sofridas pelos setores
progressistas foram entregues às mãos de aliados da esquerda. A maior
perda do movimento sociossindical é a perda de aliados e a desconfiança
que contamina as relações das representações de classe.
Foi
comovente assistir o empenho dos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP)
e Lindemberg Farias (PT-RJ), da senadora Marinor Brito (PSOL-PA) em
tentar alterar o substitutivo. Eram os congressistas dotados dos mais
fortes argumentos, mas inúteis contra a blindagem conservadora. É
lamentável e compreensível por que nenhuma de suas emendas ou destaques
foi aprovado. Ao lado da resistência parlamentar os estudantes fizeram a
sua parte, levantaram cartazes e a bandeira nacional, enfrentaram os
seguranças. Ambos, parlamentares e estudantes, deram ao debate um
colorido que este não merecia.
O
governo não foi omisso no processo, pois participou em todas as
negociações com os ruralistas e com os movimentos sociossindicais.
Porém, a diferença de influência política entre esses dois atores
determinaram a tomada de posição do governo. O Ministério do Meio
Ambiente realizou diversas reuniões com a sociedade civil organizada,
mas foi um ator inexpressivo no jogo político. Os senadores ruralistas
garantiram a vitória de suas propostas em uma negociação à noite com o
governo, às vésperas da votação na Comissão. Essa reunião foi denunciada
diversas vezes pelo senador Lindemberg Farias e não foi contestada pelo
relator- senador Jorge Viana (PT-AC).
Na
votação, que virá a seguir, em plenário do Senado Federal, o que vamos
constatar será a reafirmação da força do conservadorismo parlamentar. Os
senadores ruralistas já solicitaram urgência na tramitação do projeto
de Código Florestal. Assim, a proposta ganha rapidez ao saltar algumas
exigências do processo legislativo.
A
importância da votação em plenário para as organizações e movimentos
sociais e sindicais, e seu reenvio para a revisão da Câmara dos
Deputados, não está na realimentação de uma possível reviravolta no
texto, mas poder saber e divulgar os nomes dos senadores que votarão
nominalmente contra o meio ambiente, as florestas e os recursos naturais
do Brasil.
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terça-feira, 29 de novembro de 2011
Votação do Código Florestal revela o conservadorismo do Congresso
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